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Bernardo faz retrospecto da carreira, admite excessos com bebida e detalha terror em favela: “Foi f…”

Com passagens por Vasco, Santos, Palmeiras e Cruzeiro, meia tenta explicar como promissora carreira desmoronou após polêmicas fora de campo. Aos 33 anos, ele sonha com nova chance

Sentado em uma das cadeiras recém-pintadas do estádio Walter Ribeiro, em Sorocaba, Bernardo sonha em desenhar uma nova história na sua carreira. De volta para a cidade onde nasceu após quase duas décadas rodando o Brasil e o mundo, o jogador atua na várzea local enquanto espera por ofertas para retornar ao futebol profissional.

O meia-atacante reflete sobre os excessos, os erros e as decisões que mudaram a sua rota como uma das grandes promessas do futebol brasileiro.

Cruzeiro, Vasco, Santos e Palmeiras foram alguns dos clubes que fizeram do garoto nascido no interior de São Paulo uma celebridade do mundo da bola. E a fama trouxe consequências – boas e ruins.

– Todo mundo sabe do histórico que aconteceu no Rio de Janeiro. As pessoas sempre vinculam algo de droga, mas tenho todos esse anos de carreira e nunca caí em doping, nada. Meu problema sempre foi tomar uma bebidinha mais forte – conta Bernardo.

Em mais de uma hora de bate-papo, Bernardo abordou outros temas polêmicos que marcaram a sua carreira e hoje são motivo de reflexão de uma pessoa que não busca apenas o recomeço na vida profissional.

Dentre os 18 clubes ao longo dos pouco mais de 15 anos de carreira, o Vasco foi o divisor de águas na vida de Bernardo. Para o bem e para o mal.

Abraçado pela torcida, o meia-atacante foi tratado como “dono” do Rio de Janeiro. As amizades, as noitadas, as bebidas e as andanças pelas favelas fizeram parte da vida dele na mesma intensidade em que trilhava o caminho no futebol.

O ano era 2013. Levado por amigos até o Complexo da Maré, bairro da zona norte do Rio de Janeiro composto por 17 comunidades e mais de 140 mil habitantes, Bernardo viveu a sua história mais marcante e que se tornou uma espécie de cicatriz na sua carreira como jogador de futebol.

Foi lá que Bernardo passou pela “maior pressão psicológica da sua vida”, como ele classifica o episódio. O então xodó do Vasco teria se envolvido com a namorada de um dos chefes do tráfico local. Por isso, foi amarrado e obrigado a confessar que havia se relacionado com a mulher, que acabou sendo baleada sete vezes em retaliação pelo suposto envolvimento com o jogador.

Bernardo negou qualquer envolvimento com a mulher e foi liberado pelo traficante após intervenção do lateral Wellington Silva, que na época defendia o Fluminense e atualmente joga no Volta Redonda, e o ex-volante Charles, que jogava no Palmeiras. Ambos nasceram e foram criados no Complexo da Maré.

Bernardo detalhou o que aconteceu naquele dia. O jogador negou ter sido agredido ou torturado, algo que chegou a ser noticiado na época, e revelou que após o período tenso na favela foi relaxar em um show da cantora Anitta.

– Ali manchou, né? Acho que ficou muito chato por ter saído na mídia e uma situação como essa mancha muito. A verdade é a minha, que foi o que disse no dia do depoimento. Estava em uma feijoada na Iha (do Governardor) com uns amigos e fui para lá a convite de alguns amigos. Eu sempre ia, mas ficava na minha jogando futebol, como tantos outros jogadores vão. Mas por que o foco veio em mim? Porque eu era de fora, de outra cidade. Se eu fosse dali nada disso teria acontecido – contou Bernardo.

– Você chega e é conhecido, as pessoas ficam com inveja e acabou que eu sofri aquela pressão psicológica. Que me bateram, me agrediram, isso é tudo mentira. Tanto que depois faço uma reportagem e estou bem, rosto normal. Como isso teria acontecido eu estando bem um, dois dias depois disso ter acontecido? Foi mais uma pressão psicológica por um fato que não aconteceu, isso eu já relatei. Ficou chato porque você paga um preço e uma fama que não sou, do que não fiz. Então é um fato chato, falo normal, mas é o que falei. Saiu um pouco do trilho e manchou muito.

– Eu saio dali e vou embora para casa. Se não me engano, eu pego meu carro na Ilha (do Governador) e vou para a 021 (casa noturna) no show da Anitta, entendeu? É uma loucura, depois de tudo que sofri eu não podia ficar dentro de casa. Fui encontrar os amigos para escalarecer a mente, a pressão piscológica foi pesada – revelou Bernardo.

Bernardo em ação pelo Vasco na temporada 2014  — Foto: Ernesto Carriço / Agência Estado

Dois anos depois do episódio polêmico no Complexo da Maré, Bernardo novamente foi alvo de notícias por ter sido fotografado por funcionários de uma empresa ao pegar carona em um caminhão de lixo após ter o carro roubado em Campo Grande, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro.

– É foda, foi foda. Eu estava em um rolê também e acabou que parei em uma conveniência para pegar um táxi, nem tinha carro de aplicativo na época. Em mais um exagero as pessoas aproveitam. O Ronaldinho Gaúcho já tirou várias fotos com pessoas que ele nem sabe quem é, então são coisas que acontecem com pessoa pública. Registraram o momento, mas graças a Deus quase ninguém lembra disso. Na época virou meme. É foda, né? Se tivesse um controle da vida com mais equilíbrio isso não teria acontecido – disse o jogador, que preferiu não entrar em detalhes.

Aos 33 anos, Bernardo Vieira de Souza quer recomeçar. Se a idade para muitos significa a proximidade da aposentadoria, para o jogador representa maturidade, experiência e o desafio de provar que ainda não acabou.

– Já tem mais de dez anos essas coisas, eu não sou mais nenhum moleque do passado, quero buscar um futuro melhor. Não penso em me aposentar agora, de maneira nenhuma. Vejo muitas pessoas falando que “já acabou”, “não dá mais” . Pô, eu não fiz nada de mal para ninguém, não matei ninguém –desabafou Bernardo.

– Eu daria mais uma chance, com certeza. Estou novo, tenho saúde, tenho perna. Corro ainda. Se me der uma oportunidade para treinar e me botar bem fisicamente… Beleza, tive meus deslizes na carreira, mas foi uma coisa que ficou, a gente quer algo diferente agora, mas acho que esse lado pesa um pouco. Espero que depois da nossa entrevista as pessoas pensem com carinho, deixem de lado o que passou e olhem para algo positivo

É nos braços da família e na companhia dos filhos que Bernardo quer se reencontrar como pessoa. Ele ainda autovalia que se encaixaria em clubes da Série B e até Série A do Brasileiro, mas sabe que o caminho será mais longo que o do menino que brilhou na base do Cruzeiro e despontou para o cenário nacioal.

– Eu não gosto nem de lembrar quantos anos eu tenho (risos). Estou novo, dá ainda para voltar a jogar. Eu acompanho Série B e, se eu me preparar, jogo. Consigo também jogar a Série A. Óbvio, a internet e as pessoas comentam “ah, não joga mais” aquelas cornetas pesadas, ainda mais que agora eu tô aqui em Sorocaba, vivendo com minha família, esses comentários vêm.

Quem é Bernardo

  • Nome: Bernardo Vieira de Souza
  • Idade: 33 anos (20/05/1990)
  • Profissão: jogador de futebol (meia-atacante)
  • Carreira: Cruzeiro, Seleção brasileira sub-17, Goiás, Vasco, Santos, Palmeiras, Ceará, Ulsan (Coreia do Sul), Coritiba, Botafogo-SP, Al-Tadhamon (Kuwait), Ipatinga, Al-Khaleej (Arábia Saudita), Volta Redonda-RJ, Pegasus (Hong Kong), Rio Branco-PR, Brasiliense, Maguary-PE e Maricá-RJ.
  • Títulos: Sul-Americano Sub-17 pelo Brasil (2007); Copa do Brasil pelo Vasco (2011); Campeonato Carioca pelo Vasco (2015); Campeonato Mineiro pelo Cruzeiro (2009) e Campeonato Brasiliense (2022).

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